Setor imobiliário enfrenta desafios – mas “está a andar para a frente”

 Interesse estrangeiro pelo imobiliário português segue em alta e obras estão a sair do papel, mas contexto atual é de incerteza.

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Autor:
Frederico Gonçalves

A atual conjuntura económica deixa antever que vêm aí tempos difíceis. Com uma crise energética internacional como pano de fundo, a taxa de inflação está alta e a bater recordes, o Banco Central Europeu (BCE) responde com o aumento das taxas de juro, os custos de construção teimam em manter-se elevados e a tudo isto há que juntar, claro, o facto de o poder de compra estar a cair, bem como a taxa de poupança. Mas resiliência continua a ser a palavra de ordem no setor imobiliário e da construção. Foi assim durante o pico da pandemia da Covid-19 e tem sido assim, até agora, em tempos de guerra. Os investidores estrangeiros continuam a ter Portugal no radar e o setor está a dar boa resposta, apesar dos desafios e das incertezas existentes. 

“O setor imobiliário aguentou uma crise pandémica e está a aguentar uma crise económica. Prova o que o Banco de Portugal disse no início da pandemia, em 2020, que o setor imobiliário é um dos mais resilientes da economia, senão o mais resiliente”, começa por dizer ao idealista/news Hugo Santos Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII).

Segundo o responsável, que falava à margem de uma visita às obras de reabilitação do Quarteirão do Rossio, na qual o idealista/news participou – trata-se de uma iniciativa organizada pela própria APPII –, apesar de todas as dificuldades existentes, “o setor está a andar para a frente e tem conseguido adaptar-se”. 

“Creio que 2023 vai ser um ano ainda mais desafiante que 2022. Os números de 2022, em termos de volume de investimento, demonstram que vai ser um ano muito interessante. No segmento comercial já se ultrapassou o ano de 2021, no residencial os números ainda não são conhecidos, mas penso que não ficaremos muito atrás de 2021, que foi o melhor ano de sempre. Agora é um ano de alguma incerteza. Quando é que acaba a guerra? Quando é que a taxa de inflação e as taxas de juro estabilizam? Diria que vai ser um ano de incerteza e de mais desafios”, frisa. 

“Continua a haver muitos investidores interessados em Portugal”

Quando questionado sobre se há motivos para manter o otimismo, o líder da APPII responde de forma clara: “Acho que podemos manter um otimismo cauteloso para o futuro. Vejo o setor preocupado, atento aos desafios, mas a enfrentá-los com tranquilidade, serenidade e vontade de os ultrapassar, o que é bastante positivo”. 

"Só nestas últimas semanas entraram quatro grandes fundos imobiliários, de escala planetária, na APPII, o que quer dizer que estão com interesse em Portugal e em investir no país"
Hugo Santos Ferreira, presidente da APPII

De uma coisa Hugo Santos Ferreira diz ter a certeza: “Continua a haver muitos investidores interessados em Portugal”. E justifica a afirmação com o facto de continuar a haver “muitos investidores de grande montra, com escala mundial, multinacionais do investimento imobiliário de todas as geografias do planeta, a entrar em Portugal”. “Só nestas últimas semanas entraram quatro grandes fundos imobiliários, de escala planetária, na APPII, o que quer dizer que estão com interesse em Portugal e em investir no país”, conclui. 

Portugal continua na mira dos investidores imobiliários

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“Portugal continua a ser um território de refúgio”

Também André Caiado, fundador do atelier Contacto Atlântico, responsável pelo projeto de renovação/reabilitação do Quarteirão do Rossio, considera que Portugal continua no radar dos investidores imobiliários, mantendo-se, “aparentemente, como um território de refúgio”. 

“Vejo muito investimento a chegar aqui, sobretudo no segmento alto. Tenho alguma preocupação com o que a inflação vai implicar, mas acho que o país vai continuar a manter as características favoráveis que tem tido, como segurança, bom clima etc.”, sustenta, salientando que “em termos de projeto, de negócio, de real estate, as coisas continuam a deslizar”. 

Investidores imobiliários estrangeiros estão de olho em Portugal
                                    Assim ficará o Quarteirão do Rossio após as obras de reabilitação (imagem 3D)

Contacto Atlântico

JCKL pode voltar a investir em Portugal

A entrada de novos investidores imobiliários no mercado nacional continua a ser uma realidade, mas será que quem já “entrou” no país tem em vista novos investimentos? Alexandre Almeida, que representa a JCKL – proprietário do Quarteirão do Rossio – e a empresa BYVISION, que está a gerir o projeto e a reabilitação do ativo, deixa em aberto essa possibilidade. 

“Este investidor [JCKL] é atípico, é de curto prazo, e o imobiliário não é de curto prazo. Mas penso que concretizando este negócio é possível que olhe para outras oportunidades, não necessariamente no retalho. Têm outro tipo de investimentos, mais na hotelaria, no segmento residencial, em processos menos difíceis de aprovar, como é o caso de uma obra como esta [Quarteirão do Rossio] no centro de Lisboa e num edifício com tantas especificidades. Mas com a oportunidade certa acredito que volte a investir em Portugal”, remata. 

Setor da construção mantém-se resiliente em Portugal

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"Setor da construção em Portugal ainda está de boa saúde"

Também Miguel Morais Sarmento, engenheiro civil da Alves Ribeiro, uma das empresas do consórcio encarregue pela obra de restauração do Quarteirão do Rossio, mostra sinais de algum otimismo, apesar do contexto ser de incerteza. 

“Os custos de construção estão a subir, sem dúvida, ainda ontem [segunda-feira, dia 26 de setembro de 2022] voltou a subir o preço do aço. Acredito que o setor da construção em Portugal ainda está de boa saúde. Há muitos projetos, há muita coisa para recuperar e há capacidade de investimento. E tem havido procura para compradores, enquanto estes fatores se mantiverem é bom sinal”, aponta. 

No caso concreto da Alves Ribeiro, o responsável revela que a empresa tem em carteira muitas obras. “Vemos muito isso pela quantidade de pedidos de proposta de orçamentos que chegam. O volume de pedidos continua grande, o que é um bom indicador, significa que os promotores e os investidores estão a acreditar que em Portugal, talvez por estarmos mais longe da Ucrânia, não vai haver tantos problemas”, conclui.

 

Retirado do Idealista - Adaptado por Dicas Imobiliárias 

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