“O imobiliário é o melhor ativo para as pessoas se refugiarem”


O diretor-geral da consultora CBRE em Portugal acredita que o setor imobiliário sairá mais forte da crise provocada pelo surto de Covid-19. E setores como o dos escritórios, habitação para arrendamento ou senior living vão resistir mais

 

Foi mês e meio que investidores nacionais e estrangeiros esgotaram por completo a capacidade do Capitólio, em Lisboa, para ouvir os 11 diretores dos vários departamentos da CBRE, consultora liderada por Francisco Horta e Costa falar das tendências do mercado imobiliário nacional para 2020. Nessa altura tudo se perfilava para que o imobiliário comercial em Portugal voltasse a bater recordes, seguindo a linha dos dois anos anteriores, em que todos
os segmentos, da hotelaria ao retalho, dos escritórios as residências universitárias, atraíram, como nunca antes, o dinheiro de fundos imobiliários de todo o mundo. Um cenário que mudou abruptamente com a pandemia provocada pela Covid -19. que esta a deixar o mundo dos negócios imobiliários (também) em suspenso.

Nos últimos dois anos, foi possível atrair para Portugal cerca de 6 500 milhões de euros de investimento imobiliário comercial, mais de 80% oriundo do exterior. Na vossa conferência recente, referia que já eram esperados, este ano, investimentos na ordem dos
3 mil milhões de euros. E agora?

Neste momento, é difícil dizer.
As operações que já estavam a ser negociadas em exclusividade não estão a ser canceladas... Estão a ser, sim, adiadas até pela própria exequibilidade do negocio em si, devido a impossibilidade  de viajar para ver o  imóvel  ou  fazer  inspecções  técnicas. Está tudo  ainda muito confuso. Mas o que sinto - e olhando para os exemplos encorajadores da China e da   Coreia do Sul – é que haverá  um impacto   grande   nos   próximos   três, quatro  meses,   e  depois   começará  a abrandar e a estabilizar. Um investidor internacional  disse-me  algo  que  fez sentido  que  isto  parecia  mais  um  11 de  Setembro  do que a crise de 2008. 

Acha  que  poderá  haver  sinais  de retoma   dentro  de  quatro  meses? 

Sim,  os   investidores     vão   começar a  regressar   ao  mercado,   porque   há muita liquidez, há muito dinheiro para investir, e essa liquidez não desapareceu.
As taxas de juros vão continuar negativas durante muito mais tempo para criar estímulos aos mercados. Já sabemos que os mercados bolsistas colapsaram e o imobiliário continua
a ser uma alternativa de investimento muitíssimo válida. Para os investidores, não é uma alternativa deixar o dinheiro parado durante muito tempo, porque esse dinheiro teria uma rentabilidade negativa, querem continuar a analisar oportunidades de investimento apesar das atuais condições. Assim que houver uma definição da situação, eles avançam com a lógica de ‘business as usual'

A hotelaria e o retalho foram imediatamente afetados.
E os outros setores?

É verdade que, nos setores do retalho e da hotelaria, os investidores se sentem menos encorajados a investir, porque vão levar mais tempo a recuperar. Apesar de continuarem a ser ativos apetecíveis. Setores como o dos escritórios,. habitação para arrendamento ou senior living vão resistir mais... A verdade é que ha muita liquidez para investir e continuam
a pedir nos para enviar oportunidades de investimento. Nesse aspecto, e encorajador pensar que os investidores olham para isto de uma forma passageira.

Como está a ser na CBRE Portugal? Tiveram negócios cancelados?

Nas nossas operações só tivemos um investidor privado, que por acaso é português,  que   desistiu de comprar um edifício de escritórios. Entre os outros com negociações já iniciadas, mesmo as da hotelaria. ninguém desistiu das operações. É preciso ver que muitas destas operações já decorrem há meses, algumas entraram já numa fase de ‘dué diligence' [fase final do negócio], e deu muito trabalho a chegar até ali. Ainda não se sabe bem como é que isto vai evoluir, mas, por regra, no mercado do inves timento imobiliário há mais fundos e investidores do que oportunidades de investimento. Não é de ânimo leve que eles se retiram das operações.

E continua a prevalecer a lógica de maior segurança nos investimentos imobiliários versus produtos financeiros. É isso?

A  verdade  é  que  os  fundamentos  do investimento imobiliário continuam todos  válidos.  Neste   cenário  de  incerteza,  o  imobiliário  continua  a  ser o melhor  ativo para as pessoas  se refugiarem.  Um  exemplo:  quem  tenha investido  em  apartamentos   para  arrendar,  mesmo  que os seus inquilinos tenham   dificuldades   momentâneas   e precisem  de ajuda durante uns meses, passando  a  pagar   uma   renda   mais baixa,  faz  se  o  desconto  de  renda  e meses  mais  tarde,  pode  voltar-se  ao normal.  Já  as  atividades  de  comércio, restauração e tudo o que é PME e pequenos  negócios,   esses  sim  vão  ter muitas dificuldades  em ficar fechados tanto tempo.

Uma crise que se ira prolongar até à descoberta de uma vacina ou de um medicamento eficaz no combate ao vírus...

Sim,  o  importante  é  que comecemos a   ter    sinais positivos.   Assim   que   se descobrir uma vacina, começa  logo  a  inverter  o sentimento        de   apreensão  com  a  redução  do número de infetados e  de  mortos.   E  vendo se que, de facto, o problema vai ser erradicado, os investidores vão ter muita liquidez pronta a investir. Acho que virão com mais força do que antes desta crise.  O  que  vai  marcar mesmo   a  diferença  e o impacto que isto terá nos setores hoteleiro e  do  retalho.   O  sentimento  dos  investidores   poderá   mudar   dentro   de três meses  ou pouco  mais,  quando  as coisas   começarem    melhorar,   com o indicador  de uma  vacina  ou de um medicamento,        mas   as   pessoas   vão demorar  mais  tempo  a retomar  a  sua vida  normal,  a  irem  aos restaurantes, as lojas, aos centros comerciais, como faziam antes desta situação.. São setores  que vão  demorar  um  pouco  mais a recompor-se.

Os fundos imobiliários, com toda a pressão e excesso de capital para investir, poderão optar por aplicar essa liquidez em mercados já recuperados ou em vias de recuperação?
Como a China, por exemplo?

Sim Os mercados asiáticos começam a recuperar mais rapidamente desta situação  e  é  natural  que  os  investidores à escala global possam  começar por  ali  e depois, mais  tarde, venham para  a  Europa.  Mas  na  Europa,  em concreto,   ha   investidores que,   por regra, investem em vários países e eles não vão parar de analisar situações. Sei de um investidor alemão que comprou um edificio de escritórios em Milão há dez dias! Portanto...

Com um grande desconto?

Com um pequeno desconto na reta final, mas mesmo assim não deixou de se fazer a operação. Estamos a falar de um desconto até 10% do preço. O que realmente não é tão pequeno assim quando se fala de um negocio de milhões.

Poderemos então assistir ao regresso dos fundos oportunísticos, que surgiram na altura da crise de 2008-2013 e que compraram centros comerciais e hotéis com grandes descontos?

Acho que sim. Penso que esses fundos já estão  atentos  a oportunidades  desse tipo  que possam  surgir nos  mercados europeus  em face desta  situação. Por que haverá  algumas  situações  em que alguém  vai  ter  tomar  uma  decisão de venda mais forçada, digamos assim. E  os  fundos  oportunísticos  gostam  de atuar   nestas   situações   e  têm   muita liquidez  para  isso.  Tipicamente,  estes fundos  fazem  operações  grandes   ou muito  grandes  e,  por  isso,  em  Portugal  não  estou  a ver  que  isso possa acontecer,  mas  se  olharmos  para  o mercado  europeu  é provável que   existam   oportunidades que   eles   irão   aproveitar.
Vendo   o   que   aconteceu na   última   crise,   haverá seguramente investidores  que  vão  pensar  que, neste  momento  de  incerteza,  conseguem  fazer  operações  a preços mais  baixos,  mas  isso vai  depender  muito  do acto de os vendedores terem  ou  não  pressão para vender. Quem tiver  capacidade  para 'aguentar'-   porque é  disso  que  se  trata  -  os   próximos três  a  cinco  meses vai   conseguir   passar  por  este  período sem ter  de baixar  os preços de venda.

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Retirado da Visão 26/03/2020 | Adaptado por Dicas Imobiliárias
 

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