Investimento imobiliário: a galinha dos ovos de ouro?
Para quem sabe analisar e conhece
o mercado imobiliário em profundidade, o investimento certo pode concretizar-se
em resultados acima das expetativas.
Investir no mercado imobiliário sempre foi, é e será um bom negócio, mas é
fundamental ter um conhecimento aprofundado do setor. A análise das métricas é
importante para uma tomada de decisão que se possa concretizar em lucro, mas as
melhores ferramentas estão no local. “O imobiliário é um ativo de rua, é
preciso estar no terreno para perceber as dinâmicas locais e quais os melhores
investimentos a fazer”, alerta Gonçalo Nascimento Rodrigues que lidera, em
conjunto com José Crespo de Carvalho, a Pós-Graduação em Investimentos
Imobiliários – INDEG-ISCTE.
“O investimento mais interessante é sempre
aquele que estiver mais adequado às necessidades do mercado”
Gonçalo Nascimento
Rodrigues
Estar atento e ponderar um conjunto de variáveis financeiras é outro dos
segredos para o sucesso. É necessário analisar o mercado imobiliário com base
num enquadramento macroeconómico, mas em simultâneo as caraterísticas próprias
de cada país, de cada cidade, de cada rua. Existem questões cruciais que quem
quer investir deve colocar: por exemplo, a subida de preços no mercado da
habitação está a ser alimentada com dívida? Há 10 anos, praticamente 100% das
casas vendidas em Portugal eram financiadas com recurso a crédito; hoje, esse
valor caiu para 55%, o que se explica por um novo perfil de procura
estrangeiro, que investe em casas de preço mais elevado sem recorrer a crédito.
Do ponto de vista da tomada de decisão do investidor, o mercado responde
sempre à procura final, mas o imobiliário apresenta uma caraterística que muda
tudo: a oferta demora muito tempo a responder às dinâmicas da procura. Durante
15 anos, a construção de casas novas superou a criação de novos agregados
familiares, o que resultou num desajuste do mercado, com uma forte procura de
habitação nova fora dos centros urbanos e um desinvestimento na reabilitação.
Turismo impulsionou
aposta na reabilitação urbana
Nos últimos anos verificou-se uma inversão de sentido, com a explosão do
turismo em Portugal desenvolveu-se uma forte aposta na reabilitação urbana,
como resposta à subida acentuada da procura de alojamento local nos centros das
cidades, em especial em Lisboa e no Porto. “Não houve reabilitação urbana até
há uns 5 ou 6 anos, porque não havia racional económico, ou seja, não existiam
compradores. Como era tão caro reabilitar no centro da cidade e depois não
havia procura para pagar o preço, era muito mais interessante e barato construir
de raiz nas periferias”, sublinha Gonçalo Nascimento Rodrigues.
Remodelar ou construir
casa: qual a melhor opção?
Da perspetiva do utilizador final, a opção de construir casa nova é mais
viável fora dos centros urbanos, em que é mais económico comprar um terreno,
desenvolver um projeto e edificar a própria moradia. “Construir de raiz fica
mais barato, porque, neste caso, só é necessário pagar os fatores de produção,
mas o utilizador final raras vezes constrói a sua própria casa; compra o
produto que está disponível no mercado: reabilitado ou construído de novo”,
explica o analista financeiro da área do imobiliário.
Saiba como analisar e
concretizar os melhores investimentos
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Se é mais económico remodelar, construir de novo ou comprar pronto vai
depender de cada caso. O tipo de imóvel e a localização têm toda a importância,
embora, “à partida, construir, seja reabilitando ou construindo de raiz, é mais
barato do que comprar já feito, e tipicamente a reabilitação é mais cara do que
construir de raiz”.
Será que não estamos a
cometer erros do passado?
A atual tendência do mercado imobiliário na globalidade volta a dirigir-se
para casas construídas de raiz, na sequência de uma época marcada pela queda na
atividade da construção, com maior enfâse no período pós-subprime. Gonçalo
Nascimento Rodrigues mostra alguma prudência. “No passado, houve um ciclo
alargado em que se construíram muitas habitações novas, o que levou a que
muitas pessoas comprassem casa própria com o recurso a crédito. Os preços
subiram, o crédito disparou e o malparado também. Será que não corremos o risco
de entrar num ciclo similar, em que estamos a cometer os mesmos erros do
passado em vez de pensar a realidade imobiliária de um modo diferente, mais
inovadora e disruptiva?”, questiona.
Investimento
imobiliário resistente a crises
“A tomada de decisão do investimento depende do momento em que se entra no
ciclo do mercado”, sublinha Gonçalo Nascimento Rodrigues. Quem ingressa no
início ou meio do ciclo poderá beneficiar do movimento de subida, quem o faz no
final do ciclo pode confrontar-se com prejuízos. De qualquer forma, o
investimento imobiliário é tipicamente mais resiliente a crises do que outros
ativos financeiros. “No final do ano passado, o mercado de capitais e bolsistas
em três dias anulou as mais-valias de dois anos. Esta situação não acontece no
mercado imobiliário, não tem correções abruptas, o que torna o investimento mais
interessante. Em geral, também cobre o risco de inflação, as rendas todos os
anos são atualizadas à taxa de inflação. Estas duas caraterísticas — seja para
o pequeno ou grande investidor — são fundamentais”, refere o analista
financeiro.
“A tomada de decisão do investimento
depende do momento em que se entra no ciclo do mercado”
Gonçalo Nascimento
Rodrigues
O enquadramento macroeconómico, com as taxas de juros em baixa, também tem
facilitado os investimentos no setor. “Quando o mercado imobiliário começa a
recuperar em 2013 ou 2014, já os mercados bolsistas e obrigacionistas estão
muito alavancados. O imobiliário torna-se uma alternativa fantástica e o
dinheiro é muito barato. Até para o pequeno investidor é muito mais
interessante comprar uma casa e arrendá-la do que ter o dinheiro parado no
banco”, afirma Gonçalo Nascimento Rodrigues.
O investimento no mercado imobiliário, equacionado por norma para o longo
prazo, tem uma multiplicidade de fins: turísticos, habitação própria
permanente, arrendamento para estudantes ou habitação partilhada, entre outros
– o que significa que é flexível e mais facilmente transacionado.
Tipologias pequenas
marcam tendência imobiliária
Nos dias de hoje, a tendência do mercado imobiliário está a ser marcadas
pelo crescimento do mercado da habitação partilhada ou tipologias pequenas.
“Muitas reabilitações em Lisboa e no Porto são remodelações de apartamentos
muito pequenos, estúdios ou T1, porque a procura quer estar no centro.”
Independentemente da tipologia do imóvel, “seja num ciclo em que os preços
sobem muito rapidamente ou num ciclo de queda, há sempre oportunidade de
negócio, e um bom profissional vai aconselhá-lo da melhor forma possível”,
acrescenta Gonçalo Nascimento Rodrigues. Nos últimos anos, o mercado
imobiliário recuperou muito rapidamente, com a subida de preços e vendas. Em 10
anos, de 2009-2019, o índice de preços sobe quase 30% e as vendas quase 70%.
Massimo Forte, que atua no setor da mediação imobiliária não só em Portugal
como também em Espanha e Itália, realça a importância do aconselhamento. “O
agente imobiliário tem informação privilegiada, fornecendo um parecer de quem é
especialista, tem experiência no terreno e contacto com vários canais de
informação.”
Como distinguir um bom
de um mau mediador imobiliário?
Como em todas as áreas, existem bons e maus profissionais. Mas como
distingui-los? Com mais de 20 anos de experiência, Massimo Forte considera que
é um “bom indício” que o mediador tenha uma zona de atuação, um segmento ou
especialidade. Depois existem os factos: o tempo de experiência, quais os
resultados que obteve (por exemplo, o volume de transação por ano) e qual a
notoriedade que tem na zona onde atua. A informação online é uma fonte
importante, mas o mais sensato antes de “assinar o que quer que seja” é
conhecer pessoalmente o agente de mediação imobiliária e fazer perguntas in
loco.
“Aconselho a ir ao café mais popular da
zona e perguntar ‘sabe aqui nas redondezas quem é que vende mais casas?’. Esta
é uma forma de medir a notoriedade no terreno”
Massimo Forte
O também docente da Pós-Graduação de Investimentos
Imobiliários do INDEG-ISCTE realça ainda a necessidade da
formação técnica e ética na área da mediação imobiliária. Massimo Forte refere
a sua experiência em mercados de diferentes países, considerando que Portugal
apresenta um bom nível de profissionais. “Portugal apresentou permeabilidade às
marcas norte-americanas, que vieram trazer novos sistemas e métodos ao mercado
da mediação imobiliária.”
Avaliação imobiliária
e o impacto no investimento imobiliário
Para ajudar na tomada de decisão dos investimentos, a avaliação imobiliária
é outra ferramenta incontornável. “Permite-nos saber o valor do ativo
imobiliário à data em que se vai fazer o investimento, comparando com outros
ativos que possam estar no mercado, e, portanto, saber se o investimento está
em linha com o mercado. Mas acima de tudo, permite perceber a potencialidade de
ganho face ao investimento imobiliário: se a avaliação patrimonial for acima do
valor que estamos a comprar, significa que estamos a fazer uma boa compra e
existe uma potencialidade de ganho importante”, explica José Covas, perito
avaliador de imóveis e docente da Pós-Graduação em
Investimentos Imobiliários do INDEG-ISCTE.
“Existem três caraterísticas importantes
para uma avaliação imobiliária: as caraterísticas técnicas, a localização e a
sustentabilidade do valor no tempo”
José Covas
Uma das vantagens da avaliação imobiliária é a independência, na medida em
que está sujeita a normas internacionais muito específicas. “Nesta área,
olhamos não só para a liquidez e para a capacidade de gerar valor do imóvel,
mas também para um conjunto maior de características técnicas, como a
necessidade de obras, o estado de conservação, a orientação solar ou a
compartimentação do imóvel”, acrescenta.
Além das caraterísticas físicas, existem outros aspetos que podem ter um
grande impacto na avaliação do imóvel, como a localização — por exemplo, a
passagem de uma autoestrada com ruído desvaloriza o preço do imóvel.
O perito avaliador garante igualmente que nesta área os profissionais têm a
preocupação da avaliação ser sustentável no tempo, refletindo a evolução dos
ciclos de mercado e não apenas um momento específico.
Na era da sociedade do conhecimento e tecnologia, o mercado está cada vez
mais transparente, o que torna o trabalho dos avaliadores de imóveis mais
credível e rigoroso, sublinha ainda o especialista. Uma ideia que reflete a evolução
positiva do setor em Portugal, com a entrada de diversos players internacionais,
que têm vindo a contribuir para a profissionalização do mercado imobiliário.
Uma pós-graduação para
aprofundar conhecimentos
É com o objetivo de dar a conhecer este setor na globalidade, com uma
abordagem que se baseia na prática de docentes com ampla experiência em áreas
complementares que surge a Pós-graduação em Investimento
Imobiliário do INDEG-ISCTE. Executivos, quadros superiores ou
intermédios de empresas do setor, brokers e mediadores
imobiliários, gestores de carteiras de imobiliário, peritos avaliadores de
imóveis, licenciados em gestão, economia, contabilidade ou direito, entre
outros, podem aprofundar conhecimentos para compreender e utilizar as
ferramentas necessárias para analisar e concretizar um investimento imobiliário
vencedor.
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Retirado de Observador 11/03/2020
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